Oferenda

     O amor bateu-lhe à porta para lhe vender doçuras. A dona abriu. Mas que belezinha de amor! Pensou. Belezinha mesmo: pequeno, o olhar interessado que os pequenos têm, e os lábios mais finos, ternura, ternura antiga, astuta, travessa, travessura. E a caixa de doces bem aberta - escancarada - bem à frente para que a dona soubesse já de antemão sobre tudo o que podia vir a ter do amor. Sonho. Confete. Beijinho. Tudo doce.
     A dona sorriu ao amor - que graça! Examinou-o com cuidado, a ele e às doçuras da caixa, até que se resolveu pelo sonho - mesmo o amor tendo tentado fortemente lhe persuadir ao beijinho, o sonho açucarado lhe parecia bom. Mas então abriu a carteira de dinheiro e a expressão de seu rosto murchou. Suspirou longo: Ai que pena! Agradeceu e desculpou-se, com um sorriso mole e bobo, muito bobo - porque os doces que o amor vendia eram baratos, bem baratinhos, e a dona, que não tinha trocado, não lhes pôde comprar. Bom que emagrece! Trancou a porta com o trinco e pensou em fazer abdominais.

( Juliana Gama )

Um comentário:

  1. HAHAHA Ri com o final, Ju!
    Adorei, pra variar.
    Beijosssssssss

    ResponderExcluir