Destino

Olhar para trás - sim, peguei-me a olhar para trás. E a mesma nostalgia, a mesma risada guardada, tudo aquilo que acontece a quem se volta às lembranças me aconteceu. Aquela cabeleira amarela pipocando pela casa com o irmão. Bons tempos, pensei, e continuei a seguir-me escada acima.

Estaria num dia como tantos outros (até porque não me lembraria de um dia específico) e arrumava sobre o piso de madeira uma verdadeira cidade com os brinquedos. Orbanizava estrategicamente cada ponto da cidade, desde o hospital até o ferro-velho, para que a história pudesse acontecer ali. Em seguida, atribuía um papel a cada boneco e punha em prática um roteiro que eu inventava na hora.

O personagem principal era "interpretado" pelo irmão, mesmo a história sendo completamente inventada por mim. Eu gostava de mexer com os outros - com os figurantes, com os parceiros e, principalmente, com os vilões. Eu mexia com todo o resto, e, desta forma, fazia com que o boneco de meu irmão escorregasse história adentro, não como se eu fosse um roteirista, mas como se eu fosse um deus.

Diferentemente de um ator, meu irmão não conhecia o roteiro; ele não tinha ideia do rumo que estava traçado (que eu tinha traçado) para a história, mas acabava, sempre e sempre, seguindo este rumo. Não gosto de terminar-me em reticências, mas dane-se. Nessas horas é que nos perguntamos do poder que temos sobre nós, da importância dos figurantes e da influência dos nossos vilões ...

( Juliana Gama )

Leia mais...