Dizeres

Entre os homens de terno, havia um rapaz. Sempre houve. E se não trato dele com a mesma ternura com que trato das minhas meninas, é por questão de hábito, nada mais. Este rapaz não costumava usar ternos àquela altura.

Há quem diga que as meninas são mais confusas, que complicam mais as coisas. Bem que podia ser, mas não importa; no fim, nada faz diferença ao ser dito: desde que se trata de pessoas, as coisas são como são. Somos as exceções das regras.

Aqui está que era simplesmente um rapaz, pouco importando seu grau de confusão; o "rapaz" já diz tudo. Diz da viçosidade da pele dele. Diz da sua aparência consideravelmente saudável. Da pouca experiência já adquirida pelo tempo - afinal, ele é só um rapaz. E desde que citei as meninas, a confusão das meninas, e desde que neguei a regra às pessoas, bem poderia-se dizê-lo confuso. Também, própria às poucas idades que é a confusão, este traço já poderia ter sido dito pelo nome rapaz, ao lado da pele nova e da aparência saudável. Em todo caso, a ideia reforça-se na citação das meninas.

E, bem lembrado, mencionei ainda outro pontinho que grita. A questão dos ternos, outra pincelada ao vosso quadro. Pelos céus que ele não usa os ternos - e sim, deixo em aberto meu sentido, "figurado" (e entre as aspas porque sou dos que pregam que não há outra forma de sentido senão esta). Fosse como fosse, o não usar dos tais ternos deixa espaço para outro dizer: o de que, mais que o rapaz, mais que a confusão, há a diferença. O destaque em relação aos outros - aos homens. E vem a voz da inocência perguntar, não estaria esta questão já agregada à citação das meninas? É, bem que podia, e abro-me num sorriso malicioso de narrador. Mas já me acabei com o rapaz. Por agora, estou apenas a dizer as coisas.

E qual sentido? Sentido... Qual a moral? Mudar. Ou distanciar-se, como preferir quem lê. Das meninas pequenas ao rapaz sem ternos. O próximo passo é escrever dos não-confusos. Se bem que este tipo de gente...

( Juliana Gama )

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