Eram brancos e lisos, as unhas encobertas por um impermeável transparente, o peito magro, dedos arredondados.
Dois pés viciados, viciados.
Na sua rota comum.
No caminho simples.
Dois pés viciados, viciados.
Na sua rota comum.
No caminho simples.
Eles andavam - com os olhos fechados - andavam por lá - para lá, onde os destinos nos querem levar: a maré é só vício. Os dois pés marchavam feito soldado que marcha porque tem que marchar, sem pensar muito, sem saber do porquê.
E andavam juntinhos, os dois: harmonia. Tinham já o seu ritmo certo, suas vírgulas.
Os que já foram pisados.
Já foram beijados.
Já ficaram de molho.
Já chutaram - já fizeram gol; dou vivas!
Que agora eles andam.
Só andam.
Seguem, levam seu sujeito - passos e mais passos automáticos, na rota comum, no caminho marcado, no vício! O vício que é seguir em frente sem saber de nada mais.
É fácil.
Foi fácil.
Até que o esquerdo desconfiou.
Um pontada do impermeável se descascou do dedão, e vixe! Que surpresa! O esquerdo abriu os olhos.
Abriu os olhos e maravilhou-se: tantos outros caminhos que havia! Tanta rota diferente, tanto céu, tanto encanto além do vício! Mas toda inovação dói: o direito não gostou da invenção de moda do esquerdo. Chutou-lhe.
O sujeito caiu no chão.
( Juliana Gama )