Espelho

O fim se aproximava, sorrateiro, aproximava-se sem que se pudesse percebê-lo. De visível, só a sua dúvida. A grande incerteza do fim, com seus anseios vazios, com a sua amarga calmaria. Amarga promessa de um fim que se aproxima.

- Mas que é que se pode perder quando não se tem nada? – ela pergunta, a cabeça queimando por respostas. – Não se perde o que não se tem – e mesmo assim ela temia o fim.

O frio salão funciona como um espelho para ela. Vê formar-se na tua mente uma sala ampla, uma bem refinada, dos anjos esculpidos nas paredes, dos vidros negros nas janelas, e uma menina, uma solitária menina que repousa em seu centro.

- Não posso saber – ela diz. – Não há nitidez no meu pensamento.

O salão responde num suspiro, o ar que sai levando consigo uma parte da luz.

- Pois que vejo um caminho – ela continua –, um pelo qual eu deveria seguir. Mas ele é tão, tão incerto… Não sei se quero segui-lo.

E o salão, amargo, se rebaixa em decepção.

- Mas que posso fazer? – ela pergunta. – Se me arrisco nesta estrada tão incerta, se não me arrisco, se o mais improvável dos fins é o que espero!

Mas o salão não responde. Apenas se recolhe, envergonhado pela ingenuidade da voz que ela tem. Expectativas, menina, não são leis.

- Que é que se pode perder quando não se tem nada? – ela repete. – Se me arrisco por aí, na melhor das sortes terei algo a perder quando o fim chegar.

Vai ver é mais seguro ficar por aqui. Vai ver…

E finalmente o salão se encerra, fechando-se, então, nos receios da menina. Via-se uma lágrima nos anjos das paredes, enquanto os passos daquele final incerto começavam a badalar na escuridão que havia lá fora, do outro lado das janelas escuras.

( Juliana Gama )

Um comentário:

  1. Espelho é uma metáfora forte e maravilhosa para várias coisas e acontecimentos da vida. Que texto lindo com esse tema, Ju! Amei.

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